segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O pássaro

O pássaro
no fundo
da algibeira

ah esse
ninguém
mo pode roubar

O cavalo
clandestino
no sótão

há-de estar sempre

à minha espera

Um mar que eu sei
uma onda
uma duna

nunca deixarão
de ser
por mim

Uma pedra que tive
um gesto que gravei
num muro

bem sei
que serão sempre
a meu favor

Um telhado
um sobrado
um certo cerro
azul

bem sei
que estarão sempre
ao meu dispor

Um gosto
Um susto nos lábios
e no sangue

sei que
de olhos fechados
me conhecem

Por tão pouco se vive
de tão pouco se morre
com tão pouco se espera


Teresa Rita Lopes, Os Dedos, os Dias, as Palavras

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