sábado, 6 de setembro de 2008

Alcatruzes da vida

MOTE

Há patrão que só deseja
É a pele a um criado
Para o pobre trabalhador
Nunca tem um bom agrado

GLOSA

1

Começa um pobre a funcionar
Antes da manhã romper
Quando o sol chega a nascer
Já está farto de trabalhar
Não o deixam descansar
Nem um momento que seja
Trabalha até que veja
E tem de os tratar com carinho
A pele do pobrezinho
Há patrão que só deseja

2

Trabalhar tempo sem fim
Pagar pouco ordenado
Ouvir e ficar calado
Comer pouco e ruim
Isto tem passado por mim
Em partes que tenho andado
Muitos me têm contado
Seja homem ou mulher
O patrão só tem o que quer
É a pele a um criado

3

Levanta-se um pobre de madrugada
Trabalhando em camisa
Às vezes ainda nos dizem
Malandros não fazem nada
Aguenta o pobre esta cambada
Com tanto desgosto e dor
Eles tiram todo o valor
Ó triste pobre coitado
Passa a vida massacrado
Para o pobre trabalhador

4

Qualquer pequeno seareiro
Com poucas posses que tem
Trata um homem sempre bem
Paga sempre mais dinheiro
Não é tão interesseiro
Como o rico afortunado
Tem o cofre atulhado
Aqui temos no final
Trata um homem sempre mal
Nunca tem um bom agrado



Francisco Rosa, Literatura Actual de Almada

Sem comentários: