sábado, 6 de setembro de 2008

Ainda te não tinha dito que...

Amanhã vou visitar o teu monte
Morar contigo no meio da planície
Viver à beira do regato
Cheirar a hortelã e contemplar-te
Amanhã vou fazer o teu retrato
Amar a noite e contar os luzeiros
Porque tu tremes sob o teu xaile
Envoltos no abraço

Vou chamar o cão, atropelar os pardais
esvoaçar com os gansos e as galinhas
até dormir na fonte
Semi cerrar os olhos
E fazer amor contigo com sabor a romã
E cheiro a erva fria.

Vou semear encontros
Colher raminhos de ternura
E salpicar o teu rosto
Com as lágrimas dos nossos beijos fim-de-tarde

Enquanto sentimos repousar o horizonte
escutamos o fervilhar contínuo da ribeira
Nesta noite de grilos e piar de corujas


Amanhã? Vou fingir que não há
Vou beber um pouco do teu vinho
Cortar o teu pão

Por fim só me restará partir rumo às serras
Onde as cidades não existem.


Francisco Naia, Inédito

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