segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Komba-kia-toko *

Avó, mãe...
este teu neto, filho,
chama-te das profundezas,
do local onde te escondes,
espreitando-nos
nessa terra estranha.

Meu coração dilacerado pede-te,
mãe desconhecia,
a ajuda para atua libertação.
Venho de um mundo amolgado
pelas incompreensões,
e pela constante negação.

No campo do sonho, avó,
abraças-me meiga,
envolves-me ternurenta,
e sentas-me no teu colo pachorrenta,
tudo lentamente,
como se vivesses à espera da morte,
delicias-te com a afeição profunda
e inconsequente – aí não permites a dor.

Um entembe deveria eu realizar,
para o teu espírito dormir no colo de
[Deus,
porém avó, teu filho grande terás de
[perdoar,
como eu igualmente.

porque morreste no dia
em que eu nasci, avó?
Porque me deixaste
à mercê da terra do degredo vil?
Avó, será que responderás
às minhas impertinentes,
mas sinceras perguntas?

Sinto tua falta,
choro por não me teres tocado.
Sinto-me desprotegido, só, avó,
pois os homens também choram.

Tenho o medo alojado
no coração despedaçado,
tenho mágoa,
tenho saudades do tempo
que contigo não vivi.

Alguém rouba lágrimas
do meu rosto enquanto escrevo,
lágrimas de revolta, lágrimas tristes,
lágrimas sós, avó.

Espero que nessa nuvem
onde estás sentada,
faças o arco-íris aparecer,
para me iluminar.

Os meus dedos não param,
o coração pesado almeja leveza,
minha avó negra, escura,
que me socorre no quarto escuro,
quando tremo triste
por os não-meus não ter.

Avó ampara-me,
como teu filho grande aconselhaste.
Protege-me com a felicidade paternal,
pede ao teu Pai, que meu pai venha.



Nelson Rossano, Inédito

* Cerimónia fúnebre com muitos batuques e que se estende por alguns dias após a morte de um parente (Luanda).

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