quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Uma manhã qualquer

O cheiro a café enche a casa
Abro a janela
Exactamente como faço
Há vinte e cinco anos
O meu olhar salta em frente
Há pessoas na paragem do autocarro
Inertes como estátuas

Os músculos da minha mão
Ainda estão tensos
Inclino levemente a cabeça
Para ouvir melhor
Algumas vozes que sobem até mim
A erva muito verde
Nasce pelos interstícios da pedra

Se eu fosse um monge tibetano
Ficaria acocorado no chão
Com a cara iluminada
Por um sorriso
Elogiado interiormente
A diversidade das aparências do ser



Adélio Afonso, Literatura Actual de Almada

Sem comentários: