quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Soneto: canta o esposo

o sol declina, caem com a noite as aves
enrolo-me no tempo que amofina
e tu dormes à sombra da neblina
tudo são fantasias muito mais que suaves

matéria ocasional, ilumina-se as naves
a cigana acordada lê a sina
calou-se o sino, abandonou-se a mina
um cigarro que acendo: fazemos as pazes

era bom assim perdoar as dores
e darmo-nos ao manjar da grande ternura
mas acordo: aperto atacadores

invento a rua, vou como quem fura
a página do canto nono (dos amores)
não sei se sou quem sou, isto é sem cura



Affonso Gallo, Debaixo do Bulcão – Poezine, n.º 21

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