Se um dia me não virem aparecer
estarei de pé, numa montanha agreste
ou numa praia distante, gozando o mar,
fugido das multidões!
Se ao subir da encosta, me encontrarem
deixem-me falar, mansamente, com o vento!
Se me lobrigarem feliz, no areal molhado
deixem-me interrogar as ondas, uma a uma;
olhar alongadamente o revolto líquido salgado
e saborear os encantos sublimes da espuma.
Não me falem... Olhem-me apenas de longe.
Deixem o vento contar-me longas estórias
e o oceano desvendar-me os seus temores,
como se eu fora um livro de memórias!
Depois, já saciado, talvez despreze a solidão
ou teimarei ficar ali, só, maravilhado
distante de todos; desse jogo viciado
de estátuas móveis masturbadas de ilusão!
Lopes Martins, Literatura Actual de Almada
domingo, 7 de setembro de 2008
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