segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Esquina indiferença

Tinha nos olhos negros
o reflexo da solidão.
Na magreza do corpo envelhecido,
as rugas da alma nua.
A barriga, em vez de pão,
enchera-a com sopa de nada e ilusão.
Dormia ali no chão, frio e sujo,
na esquina da indiferença
da cidade crua.
Aos corações ausentes,
de passos apressados
e vidas sem sentido,
estendia as mãos abertas.
Lábios cerrados,
num acto de dignidade ferida.
Ao lado da caixa de cartão vazia
um apelo escrito em papel pardo:
«Peço uma moeda e um livro – sou mudo,
tenho fome e preciso de companhia.
Obrigado.»



Minda, Vidas na Corda Bamba

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